O Brasil é um dos países com maior disparidade de gênero no ranking emitido pelo Fórum Econômico Mundial, que avaliou 156 países no último ano.
A América Latina como um todo está longe de priorizar a equidade de gênero como um avanço necessário para as perspectivas sociais. De acordo com o Global Gender Gap, entre os 30 primeiros países do ranking, apenas 3 são latinos, sendo nenhum da América do Sul. O Brasil está entre os piores colocados. Caiu uma posição no último ano e está em 93° lugar.
Comparando com alguns anos atrás, a decepção é ainda maior: estamos em queda há um tempo. Em 2006, o Brasil constava em 67º na mesma listagem e em 2014 estava em 71°.
Não apenas aqui, mas em termos globais, a desigualdade de gênero piorou. Ao analisar a disparidade de gênero na economia, política, educação e saúde, percebe-se que ela foi fortemente impactada pela pandemia, que afetou mais as mulheres. Dentre as consequências, o Fórum Econômico Mundial sinaliza que a lacuna de gênero aumentou em uma geração, de 99,5 anos para 135,6 anos, enquanto a diferença econômica de gênero deve levar mais de 267 anos para ser fechada.
Mas por que isso acontece dessa maneira?
No caso do Brasil, uma das principais causas deste retrocesso está no mercado de trabalho (inclusive na política), pois a taxa de atividade feminina voltou aos níveis de 1990, quando havia menos da metade das mulheres em idade produtiva inseridas no mercado de trabalho.
Com a pandemia, muitas mulheres perderam seus empregos por diversos motivos: os setores com maior parte da mão de obra feminina foram mais impactados; as mulheres ficaram sem rede de apoio para os cuidados com seus filhos e filhas, e aquelas que moram com companheiros, ainda vivenciam uma divisão desigual de atividades domésticas.
Em momentos de crise como o que estamos vivendo, as estruturas que pautam nossa sociedade ficam mais fortes, são reforçados os papéis de gênero, e as próprias “escolhas” familiares, indicam que lugar da mulher é dentro de casa e cuidando da família. Na ausência de escolas e de apoio para cuidar dos filhos, quando um casal precisa decidir quem abandona o emprego e quem fica com as crianças, a decisão acaba sendo que as mulheres fiquem com as crianças. De acordo com uma pesquisa da Catho, 30% das mulheres abandonam seus empregos para ficar com seus filhos. Muitas vezes essa decisão é tomada pelos próprios empregadores.
Para minimizar esses impactos é necessário que haja atuação intencional dos Estados e criação e implantação de políticas públicas no setor de cuidados. Há uma carência de práticas que estimulem toda a população, governos, empresas e sociedade civil a superar a desigualdade de gênero atual. Mas ainda vivemos uma realidade em que precisamos provar que a desigualdade existe, é estrutural e que combatê-la traz benefícios não apenas para as mulheres, mas para toda a sociedade.
Para quem está nesse processo e nessa busca pela equidade de gênero, a dica é fortalecer redes e divulgar informações, disseminar boas práticas, garantir equilíbrio de participação e remuneração entre gêneros nos mais diferentes ambientes e comemorar as pequenas vitórias.